Simpósio Online de Enfermagem 2020 - Prof. Dr. Jorge Rezende Filho - Gestação e COVID-19.
Coronavírus na gravidez: possíveis complicações e como se proteger
Devido às alterações que acontecem naturalmente durante a gravidez, as mulheres grávidas possuem maiores chance de pegar infecções virais, já que o seu sistema imunológico possui menor atividade. No entanto, no caso do SARS-CoV-2, que é o vírus responsável pela COVID-19, apesar do sistema imunológico da grávida estar mais comprometido, não parece haver risco de desenvolver sintomas mais graves da doença.
No entanto, apesar de não haver evidências de gravidade da COVID-19 relacionadas com a gravidez, é importante que a mulher adote os hábitos de higiene e de precaução para evitar o contágio e a transmissão para outras pessoas, como lavar as mãos com água e sabão regularmente e cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar. Veja como se proteger da COVID-19.
Possíveis complicações
Até o momento existem poucos relatos de complicações relacionadas com a COVID-19 durante a gravidez.
No entanto, segundo um estudo feito nos Estados Unidos [1], é possível que o novo coronavírus cause a formação de coágulos na placenta, que parecem redzuir a quantidade de sangue que é transportada até ao bebê. Ainda assim, o desenvolvimento do bebê não parece ser afetado, sendo que a maior parte dos bebês que nasceram de mães com COVID-19 apresentaram peso e desenvolvimento normal para a idade gestacional.
Apesar dos coronavírus responsáveis pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-1) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) terem sido relacionados com graves complicações durante a gestação, como complicação renal, necessidade de internamento e de intubação endotraqueal, o SARS-CoV-2 não foi relacionado com nenhuma complicação. No entanto, no caso de mulheres que possuem sintomas mais graves, é importante entrar com contato com o serviço de saúde e seguir as orientações recomendadas.
O vírus passa para o bebê?
Em um estudo realizado com 9 mulheres grávidas [2] que foram confirmadas com COVID-19, nenhum dos seus bebês deu positivo para o novo tipo de coronavírus, o que sugere que o vírus não é passado da mãe para o bebê durante a gravidez, nem o parto.
Nesse estudo, foi realizada a pesquisa do vírus no líquido amniótico, na garganta do bebê e no leite materno com o objetivo de verificar se haveria algum risco para o bebê, no entanto o vírus não foi encontrado em nenhuma dessas pesquisas, o que indica que o risco de transmissão do vírus para o bebê durante o parto ou através da amamentação é mínimo.
Outro estudo realizado com 38 gestantes positivas para SARS-CoV-2 [3] também indicou que os bebês testaram negativo para o vírus, confirmando a hipótese do primeiro estudo.
Mulheres com COVID-19 podem amamentar?
Segundo a OMS [4] e os alguns estudos feitos com grávidas [2,3], o risco de passar a infecção pelo novo coronavírus para o bebê parece ser muito baixo e, por isso, é aconselhado que a mulher amamente caso se sinta em boas condições de saúde e o deseje.
É apenas recomendado que a mulher tenha alguns cuidados na hora de amamentar para proteger o bebê de outras vias de transmissão, como lavar as mãos antes de amamentar e utilizar máscara durante a amamentação.
Sintomas de COVID-19 na gravidez
Os sintomas de COVID-19 na gravidez variam de leves a moderados, havendo sido relatados sintomas iguais aos das pessoas que não estão grávidas, como:
- Febre;
- Tosse constante;
- Dor muscular;
- Mal estar geral.
Em alguns casos foi verificado também diarreia e dificuldade para respirar, sendo importante que nessas situações a mulher seja acompanhada no hospital. Saiba identificar os sintomas de COVID-19.
Como evitar pegar COVID-19 durante a gravidez
Apesar de não existirem evidências de que os sintomas apresentados pela mulher sejam mais graves durante a gravidez, ou de que possam haver complicações para o bebê, é importante que a mulher adote medidas para evitar pegar o novo coronavírus, como:
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabão por cerca de 20 segundos;
- Evitar tocar nos olhos, boca e nariz;
- Evitar ficar em um ambiente com muitas pessoas e com pouca circulação de ar.
Além disso, é importante que a gestante fique em repouso, beba bastante líquido e tenha hábitos saudáveis para que o sistema imunológico funcionando corretamente, sendo capaz de combater infecções virais, como a COVID-19.
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Características de gestantes com infecção confirmada
Este mês, foi publicado no The British Medical Journal (BMJ) um estudo o qual avaliou desfechos gestacionais em mulheres internadas por síndrome da angústia respiratória grave por coronavírus 2 (SARS-CoV-2) no Reino Unido.
O coorte retrospectivo usou os dados do Sistema de Vigilância Obstétrica do Reino Unido (UKOSS) de 427 gestantes internadas com infecção confirmada por SARS-CoV-2 no período entre 1 de março a 14 de abril de 2020 de 194 maternidades.
As variáveis analisadas foram a incidência de internação e óbito materno, infecção neonatal, necessidade de suporte em unidade intensiva, óbito fetal, prematuridade, cesariana, natimortalidade, neomortalidade e necessidade de suporte em unidade intensiva neonatal.
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Covid-19 na gravidez
O resultado evidenciado pelo BMJ, foi que a incidência de internação hospitalar devido a infecção confirmada por SARS-CoV-2 na gravidez foi de 4,9 por 1.000 maternidades, 281 (69%) gestantes apresentavam sobrepeso ou obesidade, 145 (34%) possuíam comodidade preexistentes, 175 (41%) tinha idade igual ou superior a 35 anos, 233 (56%) eram de minoria étnica negras ou de outras etnias, 266 (62%) já haviam engravidado, 196 (73%) pariram o termo.
Quanto à necessidade de suporte em unidade intensiva a incidência foi de 10% (41) e 1% (5) vieram a óbito, já dos 265 recém natos 12 (5%) apresentaram infecção confirmada para SARS-CoV-2, sendo seis destes nas primeiras 12h de vida.
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Conclusões
O estudo evidência que a maioria das mulheres encontravam-se no segundo e terceiro trimestre da gestação, reforçando a necessidade de medidas de distanciamento social até o final da gravidez, apesar da transmissão para o bebê ter sido incomum bem como os resultados adversos.
Todavia, por se tratar de uma doença recente ainda faz-se necessário maiores estudos quanto ao potencial do vírus na gestação quanto a anomalias congênitas, aborto espontâneo, restrição do crescimento intrauterino, entre outros desfechos.
Autora:
Graduada em Medicina pela Universidade Estácio de Sá/RJ ⦁ Pós-graduada em Saúde da Família pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Residência em Ginecologia e Obstetrícia na UERJ ⦁ Pós-graduada em Reprodução Humana na UNIGRANRIO • Residência em Reprodução Humana no Hospital Pérola Byington • Aperfeiçoamento em Reprodução Humana no Humanitas Research Hospital (Itália)
Referência bibliográfica:
- Knight M, Bunch K, Vousden N, et al. Characteristics and outcomes of pregnant women admitted to hospital with confirmed SARS-CoV-2 infection in UK: national population based cohort study. BMJ 2020; 369 doi: https://doi.org/10.1136/bmj.m2107 (Published 08 June 2020)