Metodologia Ativa

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Metodologias ativas de aprendizagem são propostas pedagógicas pensadas intencionalmente para incentivar os estudantes a pensarem de forma autônoma e mais participativa, e o tema que está entre os mais pesquisados pelos educadores nos últimos meses.

As metodologias ativas nascem de um novo paradigma educacional, que considera o aluno como protagonista de sua aprendizagem. Cada metodologia ou estratégia tem seus próprios objetivos e protocolo de aplicação. No entanto, é verdade que existem fundamentos comuns que são melhorados em maior ou menor grau em todas as metodologias.

Colocar esse conceito em prática, porém, ainda é um desafio para a maioria dos educadores. Em partes, isso está relacionado ao fato de que a formação tradicional que a maioria dos professores recebeu é bastante diferente das práticas possibilitadas pelas metodologias ativas, tornando sua aplicação distante do dia a dia escolar.

Longe de ser um modismo, as metodologias ativas não são recentes na educação e remontam a estudos preconizados de teóricos renomados, como Jean Piaget, Lev Vygotsky e Paulo Freire, por exemplo, que propunham uma educação com base em experiências e que levasse em conta o conhecimento prévio dos alunos. 

Na prática, as metodologias ativas visam criar um percurso metodológico que garanta mais protagonismo dos alunos, como explica o livro Metodologias ativas para uma educação inovadora: Uma Abordagem Teórico-Prática, organizado por Lilian Bacich e José Moran e considerado uma referência nacional sobre o tema:

“Aprendemos ativamente desde que nascemos e ao longo da vida, em processos de design aberto, enfrentando desafios complexos, combinando trilhas flexíveis e semiestruturadas, em todos os campos (pessoal, profissional, social) que ampliam nossa percepção, conhecimento e competências para escolhas mais libertadoras e realizadoras. A vida é um processo de aprendizagem ativa, de enfrentamento de desafios cada vez mais complexos […]”.

Ainda de acordo com a publicação, as metodologias predominantes no ensino são as dedutivas, ou seja, o professor transmite primeiro a teoria e depois o aluno deve aplicá-la a situações mais específicas. Contudo, destacam os autores, “o que constatamos, cada vez mais, é que a aprendizagem por meio da transmissão é importante, mas a aprendizagem por questionamento e experimentação é mais relevante para uma compreensão ampla e profunda”.

Modelos e benefícios das metodologias ativas

Ainda de acordo com a publicação, são muitos os modelos de ensino associados às metodologias ativas com potencial de levar os alunos a aprendizagens por meio da experiência, impulsionando o desenvolvimento da autonomia, da aprendizagem e do protagonismo. 

Nesse sentido, o livro organizado por Lilian Bacich e José Moran cita como exemplos algumas metodologias ativas, como: 

  • Aprendizagem baseada em problemas: Essa metodologia é voltada para a aquisição do conhecimento por meio da resolução de situações propostas dentro do contexto de aula para unir teoria e prática. Em geral,  acontece dentro de um período específico e busca problemáticas internas e externas à escola que podem ser solucionadas ou revisadas com a atuação da comunidade escolar.
  • Sala de aula invertida: Parte da proposta de inverter a dinâmica tradicional de aulas expositivas para um cenário no qual os alunos usam o tempo em sala para praticar e interagir com professores e colegas, deixando o aprofundamento teórico para momentos externos à escola, usando recursos digitais.
  • Sala de aula compartilhada: Metodologia ativa que propõe agrupar alunos de diferentes turmas e etapas com base em um projeto interdisciplinar, que possa favorecer a aprendizagem em grupo.
  • Contextualização da aprendizagem: Abordagem de construção e resolução de problemas significativos a partir do contexto e dos fenômenos vividos por alunos e professores. A metodologia desenvolve o engajamento e a formação de professores-autores por meio de estratégia.
  • Criação de jogos e programação: A programação de aplicativos, jogos, sites e outros recursos digitais também é uma metodologia ativa e pode ser inserida no planejamento como um caminho para atrair os estudantes para uma temática. Hoje são muitos os recursos on-line e gratuitos que permitem professores e alunos adentrarem no tema mesmo sem conhecimentos prévios.
  • Ensino híbrido: Integra tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem para permitir aos professores analisarem o desenvolvimento do aluno e propor atividades intencionalmente pensadas para personalizar as aulas, tendo o aluno como centro de sua atuação.
  • Design thinking: Com uma abordagem estruturada, essa metodologia utiliza uma sistemática da área do design, que tem como objetivo gerar e aprimorar ideias, facilitando o processo de solução dos desafios cotidianos com criatividade e de forma colaborativa.

Em artigo no site da Nova Escola, a educadora Débora Garofalo também destaca alguns desses modelos e afirma que “são muitos os benefícios ao trazer as metodologias ativas para dentro da sala de aula”. No texto, a autora destaca especialmente “a transformação na forma de conceber o aprendizado, ao proporcionar que o aluno pense de maneira diferente”, e ressalta também que:

“É importante investir em conteúdos atrativos e interativos, sendo essencial ter esse olhar para aprimorar os procedimentos utilizados para envolver os alunos na aprendizagem”.

Fundamentos Pedagógicos para aplicação de metodologias ativas em sala de aula

METACOGNIÇÃO

Segundo Flavell (1979), a metacognição é aquela que nos permite compreender nossas próprias funções cognitivs e as de outras pessoas, antecipando os pensamentos, as intenções e as atitudes dos outros.

E qual é a aplicação da metacognição nas metodologias ativas? Esse processo se refere à capacidade de reletir sobre processos de pensamentos e sobre a maneira como se aprende. Isso significa que, com o desenvolvimento da capacidade metacognitiva, os indivíduos são mais capazes de regular seus processos mentais e de desenvolver melhor sua aprendizagem.

O estudo da metacognição está dividido em dois aspectos fundamentais: 1) Conhecimentos declarativos; 2) Conhecimentos instrumentais.

 

FIGURA 1.4

 

CONHECIMENTO DECLARATIVO é aquele que permite escolher os processos cognitivos aa serem usados para resolver uma situação, seja ela mais simples ou mais complexas, com base no autoconhecimento. 

CONHECIMENTO PROCEDIMENTAL é aquele que está relacionado com a capacidade de controlar o próprio processo cognitivo, como no planejamento da própria aprendizagem, na avaliação dos processos alcançados, etc.,

O valor da metacognição em pedagogia é inestimável. A partir de seus estudos, foi possível estabelecer estratégias metacognitivas, formas de melhorar a aprendizagem, etc. Hoje sabemos que uma das melhores maneiras de melhorar a aprendizagem é fomentar a conexão entre os estudantes e os conteúdos por meio de aprendizagem significativa. No caso do ensino universitário, a metacognição desempenha um papel importante, já que é uma ferramenta para reconhecer como se pensa e aprende e, assim, melhorar constantemente a prática profissional. Por essa razão, ela também deveria ser bem explorada no contexto universitário.

Q

 

 

AUTOREGULAÇÃO

 

TECNOLOOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

 

 

 

As metodologias ativas e a BNCC

Embora não apareçam nominalmente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as metodologias ativas estão caracterizadas em diversos momentos da proposta, especialmente nas 10 competências gerais, que convidam os educadores a repensar os percursos metodológicos tradicionais, inserindo aspectos como argumentação ou pensamento científico, crítico e criativo, por exemplo. 

Nesse sentido, a proposta é que o conhecimento seja construído com o aluno, considerando sua experiência prévia. Segundo Thauane Rocha, pedagoga e consultora do programa LIV:

“É importante pensar no processo de aprendizagem não apenas como um meio de consumir informações, ou seja, apenas pela transmissão de conteúdos acadêmicos, mas levando em consideração os conhecimentos prévios dos alunos, validando as diferenças e vivências para introduzi-los como participantes ativos desse processo. Essa dinâmica possibilita a realização de analogias do conteúdo às realidades, e a matéria passa a fazer sentido não sendo apenas informações soltas que exigem memorização. Para pôr em prática essa pedagogia engajada, se faz necessário a construção de um espaço de escuta e acolhimento, para que esse sujeito se sinta ativo no processo de aprendizagem”.

Partindo desse conceito, as metodologias ativas são o meio para atrair mais os alunos para as aulas. Não significa, é claro, que o professor nunca mais fará aulas expositivas ou trabalhos individuais. O objetivo é usar essas metodologias para poder variar as experiências de aprendizagem.

As metodologias ativas no ensino remoto

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Impossível falar sobre as metodologias ativas sem refletir sobre a inserção das tecnologias digitais nas escolas, pois mesmo antes de o ensino remoto estar difundido, elas já preconizavam a inserção de tecnologias digitais como aliadas da educação. 

Como sabemos, apenas inserir a tecnologia nas escolas não é suficiente. É preciso dar significado. Nessa perspectiva, a proposta é usar os dispositivos digitais com intencionalidade para o desenvolvimento integral do aluno. No caso do ensino híbrido, que é um exemplo de metodologia ativa, a tecnologia é inserida para ajudar o professor a identificar as necessidades de cada aluno e personalizar os conteúdos de acordo com essas necessidades.

Afinal, fazer aulas significativas para estudantes que nasceram na cultura digital exige refletir sobre expectativas em relação ao ensino, à aprendizagem e ao próprio desenvolvimento. Algo muito diferente do que expressavam as gerações anteriores. 

Por isso, as aulas que envolvem metodologias ativas visam gerar uma provocação no aluno, impulsionando-o à ação – algo que uma aula expositiva sozinha dificilmente poderia fazer. O objetivo é que a ação possa gerar no aluno momentos de reflexão e questionamento, provocando aos poucos a construção de um determinado conceito.

Metodologias ativas e aprendizado socioemocional

Embora o tema das metodologias ativas seja bem mais amplo do que tratamos nesta publicação, queremos trazer com ele uma importante reflexão sobre a necessidade de mais autonomia e protagonismo dos estudantes no processo de aprendizado, algo já apontado pelos principais teóricos da educação ao longo dos anos.

Ao usar as metodologias ativas, mais do que “estar na moda”, os educadores estão possibilitando aos alunos utilizar novos recursos de aprendizagem enquanto desenvolvem o protagonismo e outras habilidades socioemocionais. Quando propomos uma educação integral, que tenha o aluno no centro da aprendizagem – independentemente da disciplina – essa abordagem se faz essencial.

 

 

Como surgiram as metodologias ativas?

Embora não tenham recebido este nome a princípio, as metodologias ativas têm suas primeiras faíscas a partir da criação de modelos de educação que contestam os papéis tradicionais de professores e alunos.

Muitas correntes teóricas atuais estão embasadas em obras clássicas para o campo educacional, para que o uso das metodologias ativas possa ser um fator de inovação para escolas e instituições de ensino superior.

Uma dessas obras é Emilio, um tratado filosófico do século XVIII pertencente a Jean Jacques Rousseau. Apesar de pertencer a uma área diferente, a filosofia, Emilio foi inspiração para vários conhecimentos pedagógicos que utilizamos até hoje.

O tratado discorre sobre a infância e a educação, colocando a experiência em lugar de destaque em relação à teoria. E, com certeza, essa é uma das principais premissas das metodologias ativas. 

Vertentes teóricas das metodologias ativas

Para entendermos melhor o contexto em que as teorias que embasam as metodologias ativas surgem, podemos buscar quais vertentes teóricas são essenciais para compreendermos sua gênese.

Em primeiro lugar precisamos destacar as contribuições do interacionismo. Essa teoria entende o ser humano como um ser interacional , ou seja, que se constitui a partir das relações que estabelece com outras pessoas e com o mundo.

O interacionismo quebra com a ideia de que temos habilidades e uma constituição nata, assim como faz crítica à ideia de que só aprendemos a partir de estímulo positivo ou negativo. 

A interação vai além, e estabelece uma via de mão dupla, em que nos relacionamos com o que aprendemos. O papel do professor, diante de uma perspectiva interacionista, é de facilitador, mediador e ouvinte.

Dois grandes teóricos do interacionismo, que fazem interface com a educação, são Piaget e Vygotsky. O primeiro estudou a capacidade de aprendizado, especialmente na infância e adolescência.

Piaget e a capacidade de aprendizado

Piaget estudou o raciocínio lógico-matemático, um tipo de aprendizado altamente dependente de fatores subjetivos ligados ao estudante. Essa perspectiva nos apresentou a ideia de que a simples transmissão do conhecimento não existe.

Há uma limitação na capacidade de cada ser humano em absorver conteúdos, assim como há temas de interesse diferentes para pessoas diferentes. 

Vygostky e a base social

Já para Vygotsky o entendimento dos indivíduos tem base social. Isso quer dizer que nossas interações com as pessoas ao nosso redor é o que nos ajuda a compreender instrumentos e signos, ou seja, a entender o mundo e nos desenvolver cognitivamente.

Vygotsky considera que a aprendizagem ocorre em dois níveis. O primeiro é relacionado ao conhecimento real do aluno, o segundo ao conhecimento potencial, ou seja, o que ele é capaz de aprender a partir de conhecimentos de terceiros, como o professor. 

Com isso o professor ensina baseado na capacidade e conhecimento do aluno. Ele é um incentivador de um processo contínuo de aprendizagem.  A interação social, nesse caso, era o método ativo do autor.

John Dewey e a pedagogia nova

Ainda podemos citar como “precedentes” das metodologias ativas os métodos pedagógicos como a Pedagogia Nova, de John Dewey, no século XIX.

Nesse método, o autor defendia um tratamento diferenciado para os alunos, a partir das suas diferenças individuais. Para ele, era necessário levar em consideração os contextos dos alunos e suas realidades e só então seria possível ensiná-los a aprender.

O próprio conceito de “aprender a aprender” explicita a postura ativa desse método. Para Dewey, aprender seria uma capacidade inerente ao ser humano, que deveria ser estimulada e incitada. O professor seria o responsável por direcionar esse aprendizado, permitindo que os indivíduos se adaptassem à realidade para, então, se inserirem nela. 

Para Dewey a vida e o aprendizado escolar andam lado a lado, e a educação deve ser uma forma de se manter em um processo de reconstrução da experiência. Com isso percebemos que sua premissa de compreensão da realidade do aluno vai muito além da ambientação.

O que Dewey propõe é um treinamento para a vida, desenvolvido a partir do conhecimento e da aprendizagem escolar. A participação ativa dos alunos no próprio aprendizado depende da integração aluno-conhecimento. 

William Glasser e a pirâmide de aprendizagem

Já no século XX, William Glasser, um psiquiatra e educador, desenvolveu a chamada Pirâmide da Aprendizagem. Ela buscava elucidar, de maneira clara e objetiva, quanto aprendizado é possível obter a partir de determinadas atividades de ensino. Desse modo, era assim dividida:

  •     10%: ler
  •     20%: escrever
  •     30%: observar
  •     50%: ver e ouvir
  •     70%: discutir 
  •     80%: praticar
  •     95%: ensinar

Os quatro primeiros itens da pirâmide fazem referência a métodos passivos de ensino-aprendizagem, o que demonstra que eles são pouco efetivos. No entanto, os quatro últimos itens se relacionam com a metodologia ativa e indicam que um aluno engajado no conteúdo tem chances muito maiores de absorvê-lo.

Por isso, embora ler os materiais e assistir às aulas sejam boas formas de assimilar determinado conteúdo, eles precisam ser alinhados a debates, aulas práticas, seminários etc. Dessa maneira, sua absorção será mais completa.